O presente trabalho aqui apresentado é baseado em elementos de uma obra mais vasta de Garcez da Silva, que se encontra em preparação, e que tem por título Subsídios para a História do Neo-Realismo na Pintura Portuguesa.
Recorde-se que estas Exposições, realizadas na década de quarenta e cinquenta na Sociedade Nacional de Belas Artes (SNBA), em Lisboa – abriram as portas em Julho de 1946 e terminaram em Junho de 1956, teve no ano de 1952 um interregno por imposição do governo, com o encerramento SNBA, por considerar que este movimento cultural estava envolvido em acções oposicionistas – iniciaram-se num de tempo de grande esperança colectiva do povo português, que via findar a Segunda Guerra Mundial e abriam-se boas perspectivas para a democratização do país que vivia debaixo de uma terrível ditadura fascista liderada por Salazar. Com o panorama risonho de derrota das ditaduras europeias, os democratas portugueses organizavam-se politicamente em movimentos mais ou menos semi-clandestinos e floria uma nova aurora nos intelectuais portugueses, começando a despontar o movimento conhecido por neo-realista, iniciado nos finais da década de trinta com a publicação do livro Gaibéus, de Alves Redol.
Rapidamente esta corrente esteta chegou às artes plásticas e os artistas portugueses experimentaram esta nova corrente de pensamento para se exprimirem nas suas obras.
Segundo o catálogo da I Exposição esta mostra tinha uma aparente falta de unidade nas obras colocadas à apreciação do público porque «as artes voltam a aproximar-se, a viver de certo modo em função umas das outras, como expressões diferentes mas solidárias dum Homem que tem estado separado, incompleto, despedaçado e agora busca ansiosamente o caminho da sua integração» ao descobrir «de novo o valor da cooperação e da unidade». De realçar a forma como se expressão valores como cooperação e unidade em artistas e em trabalhos tão diferentes, a mensagem que se queria passar não era destituída de sentido político, pois a exposição era organizada pelo MUD – Movimento de Unidade Democrática. Esta I Exposição contou com cerca de uma centena de artistas, muitos nomes já consagrados e outros desconhecidos do público, «de ramos da Arte e diversas tendências, se terem dados as mãos para realizar esta exposição».
Adolfo Casais Monteiro, em O Mundo Literário, considerava positivo «o confronto regular das tendências várias de gerações diferentes». Muitos outros cronistas e críticos da época manifestaram o seu apoio à forma escolhida para a Exposição, Mário Dionísio, n’O Globo, sublinhava o realismo que ali constituía «afinal uma atitude de solidariedade, de abnegação, de alta humanidade…». Foram analisadas por Fernando de Azevedo as formas de representação neo-realistas da exposição, num número duplo de Horizonte – Jornal das Artes dedicado à Exposição, também José-Augusto França nesse mesmo número publicou um artigo que aferia o surrealismo de António Pedro com o neo-realismo de Júlio Pomar e expunha os seus pontos de vista não muito divergentes, face à predominância realista que imperava na Exposição. Mesmo o Diário da Manhã, órgão do regime, fazia a apologia da Exposição, sem se aperceber do seu conteúdo. Posição que não se iria manter na II Exposição, pois fizeram-lhe um cerrado ataque, considerando-a como «propaganda reles» onde figuram «verdadeiros burgueses e pseudo-proletários» e acusava as pinturas expostas de serem «más imitações, quase plágios, maus plágios dos pintores comunistas mexicanos». No entanto, estas críticas ferozes estimularam o interesse do público, o que levou o governo, numa acção chefiada pelo próprio ministro do Interior, a apreender as obras que considerava mais agressivas da «civilização a que pertencemos». Essa apreensão atingiu as obras de Pomar, Arco, Avelino Cunhal, Maria Keil e Manuel Ribeiro de Pavia, seguindo-se a perseguição, por parte da PIDE, de artistas conotados com a oposição.
A III Exposição é marcada por um conflito entre surrealistas e neo-realistas, o que levam a que alguns artistas desta última corrente não participassem. Esta falta foi colmatada por simpatizantes do movimento neo-realista, permitindo manter este projecto, bem vivo, na sua expressão político-cultural.
A IV Exposição apresenta-se ao público com os mesmos propósitos das três primeiras, mas tendo como novidade «algumas tapeçarias feitas em Portugal, pela Fábrica de Tapetes de Portalegre, a partir de cartões de artistas portugueses contemporâneos».
As Exposições seguintes continuam na mesma senda das quatro primeiras tendo a vertente da tapeçaria ganho mais adeptos, sobretudo por parte dos neo-realistas, que viram nesta forma de arte uma maneira de melhor se ligarem ao povo.
A publicação de alguns novos romances de Alves Redol incita os artistas plásticos neo-realistas a visitar os campo de arroz ribatejanos, de modo a estes reproduzirem alguns aspectos do labor, principalmente feminino, que caracterizava o cultivo do arroz. Deste movimento nasce o Ciclo do Arroz, que vêm a influenciar a VIII Exposição, em 1954, com destaque para uma litografia de Cipriano Dourado, uma pintura de Maria Alice Jorge, Monda de Arroz, e três desenhos e duas pinturas de Júlio Pomar, com a designação genérica de Estudos para o Ciclo do Arroz.
A última das Exposição Gerais de Artes Plásticas, que teve lugar no ano de 1956, reuniu principalmente artistas conotados com o movimento neo-realista, o que não agradava ao regime, que endurecera a repressão na década de cinquenta. Esta última Exposição completou uma jornada a que o Catálogo «ousou chamar histórica, pela repercussão que atingiu, logo no começo, não só nos círculos mais perto ligados às artes, como ao público em geral».
Parte das obras patentes nas dez Exposições Gerais de Artes Plásticas, foram reunidas na exposição Um Tempo e um Lugar, que esteve patente no Celeiro da Patriarcal, em Vila Franca de Xira, onde o público teve oportunidade de visitar. Esta exposição foi organizada da Câmara Municipal local, comissariada pelo Mestre Rogério Ribeiro. Nela foi mostrada diversas peças das várias facetas das artes plásticas, assim como imprensa da época e primeiras edições de obras literárias ligadas à corrente neo-realista portuguesa.
Alfredo Vieira
Recorde-se que estas Exposições, realizadas na década de quarenta e cinquenta na Sociedade Nacional de Belas Artes (SNBA), em Lisboa – abriram as portas em Julho de 1946 e terminaram em Junho de 1956, teve no ano de 1952 um interregno por imposição do governo, com o encerramento SNBA, por considerar que este movimento cultural estava envolvido em acções oposicionistas – iniciaram-se num de tempo de grande esperança colectiva do povo português, que via findar a Segunda Guerra Mundial e abriam-se boas perspectivas para a democratização do país que vivia debaixo de uma terrível ditadura fascista liderada por Salazar. Com o panorama risonho de derrota das ditaduras europeias, os democratas portugueses organizavam-se politicamente em movimentos mais ou menos semi-clandestinos e floria uma nova aurora nos intelectuais portugueses, começando a despontar o movimento conhecido por neo-realista, iniciado nos finais da década de trinta com a publicação do livro Gaibéus, de Alves Redol.
Rapidamente esta corrente esteta chegou às artes plásticas e os artistas portugueses experimentaram esta nova corrente de pensamento para se exprimirem nas suas obras.
Segundo o catálogo da I Exposição esta mostra tinha uma aparente falta de unidade nas obras colocadas à apreciação do público porque «as artes voltam a aproximar-se, a viver de certo modo em função umas das outras, como expressões diferentes mas solidárias dum Homem que tem estado separado, incompleto, despedaçado e agora busca ansiosamente o caminho da sua integração» ao descobrir «de novo o valor da cooperação e da unidade». De realçar a forma como se expressão valores como cooperação e unidade em artistas e em trabalhos tão diferentes, a mensagem que se queria passar não era destituída de sentido político, pois a exposição era organizada pelo MUD – Movimento de Unidade Democrática. Esta I Exposição contou com cerca de uma centena de artistas, muitos nomes já consagrados e outros desconhecidos do público, «de ramos da Arte e diversas tendências, se terem dados as mãos para realizar esta exposição».
Adolfo Casais Monteiro, em O Mundo Literário, considerava positivo «o confronto regular das tendências várias de gerações diferentes». Muitos outros cronistas e críticos da época manifestaram o seu apoio à forma escolhida para a Exposição, Mário Dionísio, n’O Globo, sublinhava o realismo que ali constituía «afinal uma atitude de solidariedade, de abnegação, de alta humanidade…». Foram analisadas por Fernando de Azevedo as formas de representação neo-realistas da exposição, num número duplo de Horizonte – Jornal das Artes dedicado à Exposição, também José-Augusto França nesse mesmo número publicou um artigo que aferia o surrealismo de António Pedro com o neo-realismo de Júlio Pomar e expunha os seus pontos de vista não muito divergentes, face à predominância realista que imperava na Exposição. Mesmo o Diário da Manhã, órgão do regime, fazia a apologia da Exposição, sem se aperceber do seu conteúdo. Posição que não se iria manter na II Exposição, pois fizeram-lhe um cerrado ataque, considerando-a como «propaganda reles» onde figuram «verdadeiros burgueses e pseudo-proletários» e acusava as pinturas expostas de serem «más imitações, quase plágios, maus plágios dos pintores comunistas mexicanos». No entanto, estas críticas ferozes estimularam o interesse do público, o que levou o governo, numa acção chefiada pelo próprio ministro do Interior, a apreender as obras que considerava mais agressivas da «civilização a que pertencemos». Essa apreensão atingiu as obras de Pomar, Arco, Avelino Cunhal, Maria Keil e Manuel Ribeiro de Pavia, seguindo-se a perseguição, por parte da PIDE, de artistas conotados com a oposição.
A III Exposição é marcada por um conflito entre surrealistas e neo-realistas, o que levam a que alguns artistas desta última corrente não participassem. Esta falta foi colmatada por simpatizantes do movimento neo-realista, permitindo manter este projecto, bem vivo, na sua expressão político-cultural.
A IV Exposição apresenta-se ao público com os mesmos propósitos das três primeiras, mas tendo como novidade «algumas tapeçarias feitas em Portugal, pela Fábrica de Tapetes de Portalegre, a partir de cartões de artistas portugueses contemporâneos».
As Exposições seguintes continuam na mesma senda das quatro primeiras tendo a vertente da tapeçaria ganho mais adeptos, sobretudo por parte dos neo-realistas, que viram nesta forma de arte uma maneira de melhor se ligarem ao povo.
A publicação de alguns novos romances de Alves Redol incita os artistas plásticos neo-realistas a visitar os campo de arroz ribatejanos, de modo a estes reproduzirem alguns aspectos do labor, principalmente feminino, que caracterizava o cultivo do arroz. Deste movimento nasce o Ciclo do Arroz, que vêm a influenciar a VIII Exposição, em 1954, com destaque para uma litografia de Cipriano Dourado, uma pintura de Maria Alice Jorge, Monda de Arroz, e três desenhos e duas pinturas de Júlio Pomar, com a designação genérica de Estudos para o Ciclo do Arroz.
A última das Exposição Gerais de Artes Plásticas, que teve lugar no ano de 1956, reuniu principalmente artistas conotados com o movimento neo-realista, o que não agradava ao regime, que endurecera a repressão na década de cinquenta. Esta última Exposição completou uma jornada a que o Catálogo «ousou chamar histórica, pela repercussão que atingiu, logo no começo, não só nos círculos mais perto ligados às artes, como ao público em geral».
Parte das obras patentes nas dez Exposições Gerais de Artes Plásticas, foram reunidas na exposição Um Tempo e um Lugar, que esteve patente no Celeiro da Patriarcal, em Vila Franca de Xira, onde o público teve oportunidade de visitar. Esta exposição foi organizada da Câmara Municipal local, comissariada pelo Mestre Rogério Ribeiro. Nela foi mostrada diversas peças das várias facetas das artes plásticas, assim como imprensa da época e primeiras edições de obras literárias ligadas à corrente neo-realista portuguesa.
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