- Um olhar de Hernâni Cidade
Conhecer a História e a identidade cultural, à parte da formação e do ensino, em Portugal no século XVIII, é o que se propõe Hernâni Cidade com a obra Ensaio Sobre a Crise Cultural do Século XVIII, reeditada pela Presença.
O livro é uma análise transversal quer do ensino, quer da cultura portuguesa em comparação com o que se passava na Europa, e das propostas existentes para a alteração da situação, sobretudo através de uma análise profunda da obra O Verdadeiro Método de Estudar, do Padre Luís António Verney, um texto polémico na época devido à influência jesuíta no ensino. Influência que acabou por ser alterada com a reforma pombalina e que acaba por gerar aquilo que o autor considera como o «triunfo do espírito moderno», profundamente analisado no segundo capítulo da obra. Na terceira parte, Hernâni Cidade comenta as novas tendências da literatura e a sua influência no Portugal de XVIII.
É importante conhecer a escola e a tradição de ensino, sobretudo secundário, em Portugal, que desde 1561 era monopolizado pelos jesuítas. É este clima de sufocação do ensino, que leva o Padre Verney a lutar contra a incapacidade e a mentalidade instalada. Uma nova visão da escola quase custou a vida a Verney, que teve de lutar contra os interesses instalados, sobretudo da comunidade jesuíta, que detinha grandes influências no poder real, através da Inquisição.
O que o Padre Verney pretendeu fazer foi uma revolução no ensino em Portugal, a exemplo do que se passava em França e na Inglaterra, apoiando-se nas teorias de Descartes. Não é demais relembrar que o francês era estudado havia perto de cem anos, mas em Portugal estudava-se ainda na base de textos antigos, sendo considerado uma heresia publicar obras na língua pátria, ou seja, na língua falada naquela época. O padre jesuíta Arsénio encabeçava a luta por princípios retrógrados e com grande influência negativa no ensino em Portugal, «a nossa língua não é morta nem tão difícil como as clássicas, para que se precise tal diligência. Falar falam os rapazes que amofinam os mestres e é necessário castigá-los para que se calem».
No fundo, Verney fez a primeiro esforço para a «integração de Portugal na cultura europeia», considera Hernâni Cidade.
Com o advento reformador do pombalismo fez-se a renovação da universidade, que levou à destruição da velha estrutura do ensino superior e ao fim dos colégios jesuítas. É nesta fase que entra pela primeira vez na instrução a língua pátria. Segundo o autor não se deve «aceitar que os jesuítas houvessem cavilosamente arruinado a ciência e, muito menos, tentado tornar irreligiosa a nação. Mas temos o direito de afirmar que, se não fora a reacção que os venceu, continuaríamos, não se sabe até quando, merecendo, pela ignorância improgressiva, o apodo de Índios da Europa».
A segunda metade do século acaba por transformar, de forma positiva, o panorama cultural da época, com uma introspecção no romance através do Padre Teodoro de Almeida e o renascer da poesia através de exemplos poéticos.
A cultura da poesia descritiva e filosófica tem nesta altura um dos seus melhores mestres, o Padre José Agostinho de Macedo, passando depois para o lirismo pessoal de José Anastácio da Cunha e de Correia Garção. No entanto, esta fase da poesia portuguesa tem os seus grandes expoentes em Bocage, Filinto Elísio e D. Leonor de Almeida.
Em conclusão, Hernâni Cidade considera que o século XVIII foi, entre nós, uma época de crise. «Deu-se nele o encontro e, consequentemente, o choque entre duas atitudes mentais e morais, em quase toda a Europa distanciadas perto de dois séculos – a atitude intelectual da Idade Média que teimava em aqui persistir, e a atitude intelectual do mundo contemporâneo, de quem não podia deixar de ser o triunfo definitivo.»
Conhecer a História e a identidade cultural, à parte da formação e do ensino, em Portugal no século XVIII, é o que se propõe Hernâni Cidade com a obra Ensaio Sobre a Crise Cultural do Século XVIII, reeditada pela Presença.
O livro é uma análise transversal quer do ensino, quer da cultura portuguesa em comparação com o que se passava na Europa, e das propostas existentes para a alteração da situação, sobretudo através de uma análise profunda da obra O Verdadeiro Método de Estudar, do Padre Luís António Verney, um texto polémico na época devido à influência jesuíta no ensino. Influência que acabou por ser alterada com a reforma pombalina e que acaba por gerar aquilo que o autor considera como o «triunfo do espírito moderno», profundamente analisado no segundo capítulo da obra. Na terceira parte, Hernâni Cidade comenta as novas tendências da literatura e a sua influência no Portugal de XVIII.
É importante conhecer a escola e a tradição de ensino, sobretudo secundário, em Portugal, que desde 1561 era monopolizado pelos jesuítas. É este clima de sufocação do ensino, que leva o Padre Verney a lutar contra a incapacidade e a mentalidade instalada. Uma nova visão da escola quase custou a vida a Verney, que teve de lutar contra os interesses instalados, sobretudo da comunidade jesuíta, que detinha grandes influências no poder real, através da Inquisição.
O que o Padre Verney pretendeu fazer foi uma revolução no ensino em Portugal, a exemplo do que se passava em França e na Inglaterra, apoiando-se nas teorias de Descartes. Não é demais relembrar que o francês era estudado havia perto de cem anos, mas em Portugal estudava-se ainda na base de textos antigos, sendo considerado uma heresia publicar obras na língua pátria, ou seja, na língua falada naquela época. O padre jesuíta Arsénio encabeçava a luta por princípios retrógrados e com grande influência negativa no ensino em Portugal, «a nossa língua não é morta nem tão difícil como as clássicas, para que se precise tal diligência. Falar falam os rapazes que amofinam os mestres e é necessário castigá-los para que se calem».
No fundo, Verney fez a primeiro esforço para a «integração de Portugal na cultura europeia», considera Hernâni Cidade.
Com o advento reformador do pombalismo fez-se a renovação da universidade, que levou à destruição da velha estrutura do ensino superior e ao fim dos colégios jesuítas. É nesta fase que entra pela primeira vez na instrução a língua pátria. Segundo o autor não se deve «aceitar que os jesuítas houvessem cavilosamente arruinado a ciência e, muito menos, tentado tornar irreligiosa a nação. Mas temos o direito de afirmar que, se não fora a reacção que os venceu, continuaríamos, não se sabe até quando, merecendo, pela ignorância improgressiva, o apodo de Índios da Europa».
A segunda metade do século acaba por transformar, de forma positiva, o panorama cultural da época, com uma introspecção no romance através do Padre Teodoro de Almeida e o renascer da poesia através de exemplos poéticos.
A cultura da poesia descritiva e filosófica tem nesta altura um dos seus melhores mestres, o Padre José Agostinho de Macedo, passando depois para o lirismo pessoal de José Anastácio da Cunha e de Correia Garção. No entanto, esta fase da poesia portuguesa tem os seus grandes expoentes em Bocage, Filinto Elísio e D. Leonor de Almeida.
Em conclusão, Hernâni Cidade considera que o século XVIII foi, entre nós, uma época de crise. «Deu-se nele o encontro e, consequentemente, o choque entre duas atitudes mentais e morais, em quase toda a Europa distanciadas perto de dois séculos – a atitude intelectual da Idade Média que teimava em aqui persistir, e a atitude intelectual do mundo contemporâneo, de quem não podia deixar de ser o triunfo definitivo.»
Alfredo Vieira
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