quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Esconder a cabeça na areia… para enganar os outros

Alfredo Vieira
Após a comunicação ao país do Senhor Presidente da República várias foram as opiniões dos comentadores políticos da nossa praça. A maioria dos fazedores de opinião apareceu nos canais televisivos de semblante carregado a mostrar como se sentiam defraudados pelo facto do Presidente só ter falado do estatuto da Região Autónoma dos Açores. Esperavam mais: situação económica, degradação das instituições, autismo dos governantes em relação aos graves problemas que são transversais a toda a sociedade…, enfim, nestes três importantes itens sintetiza-se todas as dificuldades do nosso povo, que levava à destituição do Governo.
A comunicação do Presidente foi de extrema importância. Portugal Continental e Ilhas são um todo nacional, é bom que os dirigentes se lembrem disso mesmo em tempo de eleições – podem brincar com os nossos impostos, podem enganar-nos nas obras públicas, podem mentir sobre tudo, mas não coloquem em causa a nossa soberania. Este foi, de facto, um sinal do Professor Cavaco Silva que deve ser entendido como os cargos políticos devem ser exercidos e os presidentes não podem, nem devem, ser meras figuras decorativas no nosso sistema político.
Mas a terreiro veio um conjunto de pessoas (os tais comentadores), quase todos eles conotados com os partidos políticos representados na Assembleia da República, sobretudo ligados aos dois maiores partidos. Uns que sim, outros que não, outros que pensavam já na demissão do Governo.
Recentemente, mais concretamente no dia 6 de Agosto de 2008, no DN, Vasco Graça Moura lembrou-se de escrever sobre a intervenção do Presidente da República e não deixou de dar umas «bicadas» na política seguida pelo governo. E não deixa de ter razão, só existe um senão.
Diz no meio do seu artigo de opinião intitulado Pode ser que não tarde: «O Governo que temos não presta para nada. Mostra-o todos os dias, nos mais variados quadrantes e sob as mais variadas perspectivas. Tem falhado em tudo o que anuncia, estropiado tudo o que prevê, desgovernado quase sempre, escamoteado ou manipulado aspectos essenciais, vivido de sessões contínuas de propaganda verbosa numa chocante impunidade.» Tudo isto é verdade, como é verdade o parágrafo com finaliza o texto: «Afinal, até os adeptos e simpatizantes do PS estavam à espera de que o PR se resolvesse a enxotar esta gente do poleiro. Havia outras coisas e ainda não foi desta. Mas pode ser que não tarde.»
Devo dizer que sou um leitor e admirador do poeta, tradutor e ficcionista Vasco Graça Moura, mas quando toca a política desagrada-me. Vasco Graça Moura é destacado militante do PSD, ocupando o cardo de deputado no Parlamento Europeu pelo mesmo partido, estrutura política essa que tem dividido o poder com o Partido Socialista desde as primeiras eleições livres. Tudo o que se passa, toda essa crise permanente em que vivemos não é exclusivo do Eng. Sócrates, é da responsabilidade de todos os primeiros-ministros, de todos os ministros que têm passado pelos vários governos constitucionais, que não souberam revelar-se como verdadeiros políticos capazes de resolver os problemas estruturais do país, pelo contrário, só os vêm agravando.
Gostava de perguntar ao Professor Vasco Graça Moura, homem de letras e de cultura reconhecida, se está a esconder a cabeça na areia ou quer enganar os outros? Se o PSD estivesse no governo, com a sua actual líder, iria tomar medidas políticas diferentes? A Dr.ª Manuela Ferreira Leite já deu a entender que não.Por isso será que vale a pena mudar de governo só por mudar. Se é para isso penso que não. A este já temos antipatia de estimação.

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