sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Brito Camacho e o anticlericalismo

Alfredo Vieira

Figura controversa Brito Camacho não consegue reunir consenso em torno de algumas das traves mestras do seu pensamento, quase todo ele publicado em livros ou em artigos de opinião nos jornais por onde passou e alguns que liderou.
Republicano e Livre Pensador, foi-o de certo, contudo existe a dúvida enquanto moralista e, até, enquanto ateu que se assumia, pois frequentemente visitava a Capela da Senhora do Castelo, na sua terra natal Aljustrel. A Senhora do Castelo era sua madrinha de baptismo a quem ele dizia visitar como dívida de gratidão que se deve aos padrinhos de baptismo.
É sobre a vida e obra de Brito Camacho que se debruça a recente obra de Luís Vaz O Pensamento Anticlerical de Brito Camacho, editado pela Hugin e prefaciado por António Arnaut, Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano, a Maçonaria Portuguesa. O livro traça o percurso sobre o pensamento de um homem, sobretudo anticlerical, desde o seu tempo de estudante, onde fundou o perfil que o ia reger para o resto da sua vida. Formou-se em medicina, prática que viria a abandonar pouco tempo depois da sua formatura académica, foi ministro no 1.º Governo Provisório, depois da implantação da República em 1910, fundou o Partido Unionista do qual veio a ser dirigente máximo, colaborou em vários órgãos de comunicação social e criou outros de inspiração republicana e de livre pensamento.
Brito Camacho viveu os períodos conturbados da História Portuguesa de antes e depois da implantação da República, entrando ainda pelo período de fixação enquanto governo autoritário do Estado Novo, assim como recebeu, juntamente com outros homens que pugnavam pelo Livre Pensamento, os ataques exacerbados do Clero contra essa forma de pensamento, acirrando ainda mais a sua opinião contra a igreja católica. No seu prefácio António Arnaut coloca a questão do anticlericalismo de Brito Camacho como uma forma de «libertar a política da influência da Igreja e restabelecer a soberania do povo, o poder civil».
Outra das suas grandes lutas foi contra a forma de ensino que se praticava à época em Portugal e o facto das universidades se manterem fieis à monarquia, mesmo depois da instituição da República, considerando os republicanos no poder responsáveis pela continuada influência da igreja no ensino depois de 1910. Pugnou por educação popular e apoiou os Grémios de Instrução e os Centros Escolares Republicanos pois considerava «…que aos letrados não convém que se difunda e intensifique a instrução, assim como aos ricos não convém que haja uma repartição mais equitativa das fortunas. Se o nível intelectual subisse, o valor de muita gente baixava, porque se tornaria manifesta a sua incompetência para ascenderam as posições que ocupam. A ignorância, mais que a preguiça, é a mãe de todos os vícios, porque, embora não tire ao homem o lugar que ocupa na escala zoológica, reduz a pouco mais de nada a sua categoria social, o seu valor como cidadão». (Camacho, Brito, Matéria Vaga, pág. 6).
Contudo a obra agora apresentada, para além de nos dar a conhecer o pensamento e a vida de Brito Camacho, permite conhecer melhor uma época, apresentando factos relevantes sobre a política, o jornalismo, a igreja, durante quase sete décadas, tempo que o estudado viveu. Para Luís Vaz «chegou a altura de submeter Brito Camacho ao tribunal da crítica. Aqui fica o nosso contributo, especialmente no que concerne ao seu pensamento e à sua obra no domínio de uma ideia e de uma prática anticlerical.».
Um livro importante para quem procura compreender um homem que, ao afirmar que não tinha filhos, dizia que era para si que escrevia, «esforçando-me para que eles (os seus escritos) reflictam o mais exactamente possível o meu particular modo de pensar e de sentir, a minhas ideias e os meus sentimentos, sempre norteado por um ideal de justiça, de verdade e de beleza».

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