quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Insegurança – até onde podemos ir

Alfredo Vieira

Muito se tem escrito e falado na comunicação social sobre a insegurança que nestes últimos dias tem assolado o país de norte a sul. Não importa muito a estes comentadores e fazedores de opinião se esses crimes são contra o património, contra bens ou contra pessoas, o importante é defender a sua corrente de opinião – contra ou a favor da política do governo.
Eis que de repente se faz luz no Diário de Notícias de 27 de Agosto de 2008 num artigo de Baptista-Basto onde, sinteticamente, o jornalista e escritor coloca o dedo na ferida. De facto, o importante é ir ao fundo da questão, saber quais as causas sociais que uma sociedade como a nossa pode gerar. Existem divisões, e elas são evidentes e gritantes, e a culpa não é deste e daquele governo, é de todos os governos que promovem e promoveram o culto do individual, do safe-se quem puder, sendo mesmo os órgãos de poder que fomentam essa discrepância. Atentemos, por exemplo, a forma como são admitidos gestores públicos que entram para as direcções das empresas ligadas ao estado, com anos de antiguidade e depois saem delas com chorudas reformas, carros de topo de gama e regalias que são cerceadas ao comum dos cidadãos.
Não vale a pena rodear-se a questão e pedir demissão de governos ou de ministros. Há que mudar a maneira de actuação e de gestão do país. Criar alternativas credíveis a estes políticos. Será que este sistema político democrático falhou? Possivelmente não. O interesse talvez resida nas tentativas de quem está no poder, aproveitando este clima de insegurança, de criar políticas autoritárias para manobrar quem tem as armas, como forma de se sentirem defendidos quando a turba perceber de que nata é feita estes políticos. Até porque eles estão atentos ao que se está a passar no mundo. Existe neste momento em muitos países um espírito de mudança – não se sabe ainda com que consequências –, com experiências como a da Venezuela, ou de outros países da América Central e do Sul, na Europa ainda procuram preservar-se desses ‘malefícios’. Mesmo nos Estados Unidos nota-se esse espírito de mudança. Há poucos anos era impensável no país mais racista e sexista encoberto do mundo, um negro ou uma mulher candidatar-se à presidência desta nação tão importante na economia e na estratégia mundial. Neste momento existe a forte possibilidade de ser um afroamericano o próximo ocupante da Casa Branca.
De facto temos de estar atentos à criminalidade crescente, mas devemos meditar mais sobre os factores que levam a essa criminalidade e não nos deixarmos tentar por hipóteses totalitárias e de criação de estados policiais, que acabam sempre por degenerar em mais violência. Se assim fosse os Estados Unidos eram o país mais seguro do planeta, são um estado onde o crime pode ser pago com a vida, pois a sua sentença máxima é a pena de morte.
Existem no referido artigo de Baptista-Bastos três notas que são de extrema importância para uma reflexão efectiva: «Os laços sociais foram destruídos e o homem "moderno" encerra-se em si próprio, indiferente não só ao "outro" como relapso aos assuntos públicos.»; «Vivemos num país, numa sociedade, que ignora o conceito de comunidade e de partilha para se converter numa massa esvaziada de substância.»; «O português não é mobilizado porque é constantemente desprezado.»
Resta saber quando nos vamos lembrar que para além desta criminalidade existe outra escondida nos lares, nos doces lares, onde perto de quarenta mulheres já foram mortas. Em silêncio sofreram e em silêncio morreram. Até porque entre marido e mulher nunca metas a colher.

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